O TRAJE DO VAQUEIRO

missadovaqueiro1O mais antigo registo da indumentária do vaqueiro nordestino fê-lo Henry Koster em dezembro de 1810, nos sertões do Rio Grande do Norte, entre Açu e Mossoró:

"Vou dar a descrição do meu amigo que se afastou da estrada para indicar-me o poço. É a figura comum do sertanejo em viagem. Montava um pequeno cavalo com cauda e crinas compridas. A sela era um tanto elevada adiante e atrás. Os estribos eram de ferro ferrugento e os freios, a mesma forma. As rédeas eram duas correias estreitas longas.

Euclides da Cunha (Os sertões, 12ª edição, 118-119) desenha o vaqueiro das caatingas baianas: "O seu aspecto recorda, vagamente, à primeira vista, o do guerreiro antigo exausto da refrega. As vestes são uma armadura. Envolto no gibão de couro curtido, de bode ou de vaqueta; apertado no colete também de couro; calçando as perneiras, de couro curtido ainda, muito justas, cosidas às pernas e subindo até às virilhas, articuladas em joelheiras de sola, e resguardados os pés e as mãos pelas luvas e guarda-pés de veado – é como a forma grosseira de um campeador medieval desgarrado em nosso tempo. Esta armadura, porém, de um vermelho pardo, como se fosse de bronze flexível, não tem cintilações, não rebrilha ferida pelo sol. É fosca e poenta. Envolve ao combatente de uma batalha sem vitórias… A sela da montaria, feita por ele mesmo, imita o lombilho rio-grandense, mas é mais curta e cavada, sem os apetrechos luxuosos daquele. São acessórios uma manta de pele de bode, um couro resistente cobrindo as ancas do animal, peirorais que lhes resguardam o peito, e as joelheiras apresilhadas à juntas. Este equipamento do homem e do cavalo talha-se à feição do meio. Vestidos doutro modo não romperiam, incólumes, as caatingas e os pedregais cortantes".

Dizemos a roupa do vaqueiro véstia. O chapéu, chato e redondo não guarda para o nordeste a proteção do cobre-nuca que Wied-Nieuwied fixou no alto sertão baiano, na fronteira com Minas Gerais e Rugendas desenhou em Goiás. É preso ao queixo pelo barbicaxo, espécie de jugular. Mantém-se o gibão, curto, antigo ou cobrindo o assento, de certo tempo para cá; as perneiras, que são calças; o guarda-peito, colete solto, duma só peça, bordado a retrós, os guantes, luvas que apenas defendem o dorso das mãos, e os sapatões de couro cru, durando uma existência.  É uma raridade encontrar-se o peitoral no cavalo, larga faixa de couro guardando-lhe o peito. É ainda comum nos sertões pernambucanos, para o sul. Para o norte, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, quase desapareceu.